quinta-feira, dezembro 07, 2006

O clube dos rapazes perdidos


Falam de vida
Falam do amor
E de suas mulheres
Discutem a arte de viver
e o viver artístico entre si

São dois, três, seis...
tanto faz
sonhaste-des a paz,
o sorriso, o choro,
o prazer e a dor
que tanto traz rancor
como o ardor
da simplicidade humana

Chega morte
que gela e derrete
na boca destes
pois essa se vier
é o menor dos desgostos
desta rotina entrelaçada
no mesmo sempre

E assim vamos vivendo
Com prolongadas horas de conversas
Com ou sem amigos de peniche
Com mais ou menos interrese
lá se faz este grupo
como tantos outros...
De mão em mão

Dedicado a: Manuel, Telmo, João e Hugo
(Sentidos pêsames por me conhecerem)

P.S:

Decididamente o poema menos pesado da minha autoria neste blog.
Como este não virão muitos outros.

Bolero do Coronel sensível que fez amor em Monsanto


Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço
Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste
Nem sequer gemeste,
Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos
Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres
A infância sem quarto
A suor, a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: fiz serão
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher
Estendi-me na cama
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada

Poema de: A. L. Antunes